As declarações do presidente da conferência episcopal terão sido recebidas mesmo em círculos da Igreja católica entre um misto de perplexidade e desilusão. Esperar-se-ia que perante o rosário de exploração, desemprego e destruição da vida de milhares de portugueses que a política do Governo e o pacto de agressão estão a semear no País, as palavras do mais alto cargo da Igreja se juntasse aos que não aceitam uma vida marcada pela injustiça e as desigualdades. Assim não foi. As palavras de Policarpo, apelando à resignada aceitação do rumo de um empobrecimento generalizado dos portugueses construído à custa da usura e opulência dos poderosos, não podem deixar de ser recebidas com uma imensa frustração por muitos milhares de católicos que não só aspiram a uma vida melhor como agem em defesa da dignidade e de uma justiça social que inscreveram como seus valores. Frustração seguramente ampliada quando a um inaceitável apelo ao conformismo perante as injustiças se juntam palavras de apoio e infundada esperança numa política que conduz o País para o declínio e a vida dos trabalhadores e do povo para o inferno.
Disse Policarpo que «não se resolve nada contestando». Ao contrário do que afirma, é justamente por saberem que é lutando em defesa dos direitos de cada um, elevando a voz contra a exploração e dando expressão ao protesto perante o roubo dos seus rendimentos, que centenas de milhares de portugueses, talvez na sua maioria católicos, não só não se calam como exigem o fim desta política de desastre. Ninguém porá em dúvida nem os fundamentos teológicos nem o conhecimento das escrituras por parte de Policarpo. Mas compreender-se-á que não se aceitando a invocação em vão, e erradamente, do texto constitucional se lhe recorde que a Constituição da República consagra não só o direito à indignação e ao protesto como o inscreve como um valor. Compreende-se assim a amargura que percorrerá o coração de muitos católicos que julgavam ver no topo daquela Igreja que têm como sua, uma voz inconformada contra as desigualdades e a pobreza e um espaço onde se inscreva, mais que uma respeitável função de caridade, a insubstituível dignidade que a todos é devida.
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