O recente acórdão constitucional constituirá, pelos vários mistérios que encerra e por algumas certezas que desvenda, um caso de obrigatória investigação. Em suma, a douta coisa, por esta síntese menos rendilhada mas mais acessível à compreensão do comum dos mortais, resume-se à elaborada e adjectivada sustentação de que sendo o roubo dos subsídios de férias e de natal tido como ilegal, quem o roubou com eles pode ficar, atendível a alegada penúria orçamental de quem com o dinheiro dos outros ficou.
Reconhecendo que estas simplificações semânticas para tão elevadas argumentações correm o risco de insuficiência para um cabal desvendar do que, fugindo à compreensão dos que morrem, não escapa à argúcia dos de eterna sabedoria, aqui se aduzem outras interrogações, que apesar de um limitado e básico alcance, reconheça-se, sempre contribuirão para pôr alguma luz em tão denso mistério: a primeira para - à boleia da implícita admissão pelo douto texto de que se tivesse sido o assalto extensível a todos quantos o governo tinha à mão, outra música tocaria – registar, por um lado, a justificada inquietação dos portugueses e, por outro, a saudada janela de oportunidade que os amigos do alheio aqui vislumbram, a partir de uma presumível ilação de que em matéria de roubos, desde que sustentada em prova de penúria económica e de ponderáveis razões de proporcionalidade e igualdade, as coisas podem andar se tocar a todos; a segunda, para saciar aquela imensa curiosidade que invadirá a maioria dos portugueses sobre, atendendo à prevalência das razões orçamentais e à fidelidade revelada perante a ingerência estrangeira invocadas pelo Tribunal Constitucional para cilindrar o respeito pela legalidade constitucional, a eventual presença de Vítor Gaspar no palácio Raton.
Quanto às certezas que animam já Passos Coelho para retirar a todos o que agora se limitou a fazer a alguns, abusando do que da literalidade do acórdão se pode extrair a menos que tenha fonte privilegiada, aqui se deixa certeza idêntica quanto à luta que enfrentará em defesa do que a cada um pertence e que constitucionalmente não pode ser retirado e pela rejeição de um pacto de agressão que alguns aceitam pôr acima da ordem constitucional.
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