segunda-feira, 28 de maio de 2012

Esplendor social artigo de opinião Anabela Fino Jornal Avante!

Entre 2011 e 2012, segundo dados do INE, a percentagem de trabalhadores com salários líquidos inferiores a 310 euros (trezentos e dez!) por mês aumentou de 3,7 por cento para quatro por cento; entre 310 e 600 euros subiu de 31,1 para 31,5 por cento, e entre 600 e 900 euros passou de 26,8 para 27,9 por cento. Significa isto que, no período em causa, o total dos três escalões passou de 61,6 por cento para 63,5 por cento. Numa palavra, num ano de governação das troikas Portugal passou de país de muito baixos salários para país de ainda mais baixos salários.
Mas não é tudo. Considerando que a taxa de inflação em 2011 foi de 3,8 por cento, que o IRS vai registar um aumento substancial devido aos cortes nas deduções que tinham os rendimentos do trabalho, e que as Previsões da Primavera da Comissão Europeia apontam para uma descida dos salários nominais de 3,1 por cento este ano, temos que os portugueses, actualmente com salários cada vez mais baixos, vão ainda empobrecer mais.
Mas ainda não é tudo. No mesmo relatório, a Comissão Europeia estima que o emprego em Portugal se reduza em 3,3 por cento este ano, o que significa a destruição de mais 153,8 mil postos de trabalho, a somar aos mais de um milhão e 200 mil de portugueses que já hoje engrossam as fileiras do desemprego real no País, dos quais apenas 359 mil têm acesso ao subsídio de desemprego. Estimativas que levam a OCDE a prever uma recessão de 3,2%, uma redução do consumo privado de 6,8% em Portugal no ano em curso e mais medidas de austeridade.
Mas ainda não é tudo. O Orçamento do Estado para 2012 prevê um corte de 2843 milhões euros nas despesas com as funções sociais do Estado (saúde, educação, segurança social), que acresce ao corte 1562 milhões euros efectuado entre 2010 e 2011, o que terá efeitos devastadores na vida dos portugueses.
Pois foi neste contexto que João Proença, da UGT, propôs ao Governo que a discussão sobre o aumento do Salário Mínimo Nacional fosse remetida para Setembro, o que é uma forma de inviabilizar qualquer actualização ainda este ano. Sensibilizado, o Executivo aceitou. Os patrões agradeceram e já vão dizendo que quanto a 2013 logo se vê. É o «acordo social» em todo o seu esplendor.

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