Neste novo ano que se inicia falemos de números, fortunas, exploração, recapitalizações, roubos e luta. No ano que passou, o tal ano da crise, dos sacrifícios para todos, em que era mesmo urgente e necessário apertar o cinto, eis que um punhado de indivíduos (os que não vivendo acima da suas possibilidades viveram certamente em cima das impossibilidades de muitos outros), viu o esforço dos outros ser amplamente recompensado nos seus bolsos.
O nome de cada um destes «obreiros» não é o mais importante, o que é realmente significativo é o facto de, no espaço de um ano, as sete maiores fortunas pessoais em Portugal terem crescido 1,54 mil milhões de euros, o equivalente a um aumento de 13 por cento, passando nesse mesmo período de 11,61 para 13,15 mil milhões de euros. Para se ter uma ideia da dimensão da acumulação, estas fortunas dariam para forrar praticamente toda a área do Alentejo com notas de 500 euros.
O que tem a ver este fabuloso «milagre» individual de «empreendedorismo» com o facto de entre 2011 e 2012 o peso dos salários na economia portuguesa ter registado a maior queda desde 1984? Ou seja, ao mesmo tempo que a exploração se intensifica, que avança o roubo nos salários e nos rendimentos do trabalho, que aumenta a precariedade e o desemprego, os detentores do grande capital vêem os seus rendimentos escandalosamente aumentar.
Ao contrário do que afirmam, a manta não é curta, está é toda puxada bem para cima.
Esta realidade de profunda e criminosa injustiça foi bem visível na passada semana com os votos contra do PSD e do CDS e – pasme-se – com a abstenção (não violenta) do PS sobre o aumento do salário mínimo nacional. O que estava em causa, como afirmou e propôs o PCP, era o justíssimo, urgente e necessário aumento imediato do SMN em 30 euros por mês. Ou seja, possibilitar aos 500 mil trabalhadores que mesmo trabalhando todos os dias, 40 horas por semana, vivem abaixo do limiar da pobreza, uma vida menos penosa. O PCP propunha o aumento imediato do SMN para os 515 euros, em Julho para 545 e atingir o mais rapidamente possível os 600 euros. O que estava em causa era dar um passo para resolver a vergonhosa situação de quem depois de impostos leva para casa 432 euros – ou seja, com 2,70 euros à hora têm que pagar as suas contas, dar de comer aos seus filhos e sobreviver.
Esta iniciativa, para além de elementar justiça, tinha ainda um importante impacto na dinamização do mercado interno podendo assim ajudar na criação de emprego. «A actual situação económica do País e das empresas não permite neste momento o aumento do SMN…» Eis uma frase feita que foi repetida até à exaustão por parte dos deputados do PSD, CDS e pelo patronato. Quanto às hipocrisias e devaneios de cada um dos deputados do PS que se abstiveram, fica para cada um a explicação de mais este seu acto.
Não há dinheiro?
Se nos esquecêssemos do que foi dito acima sobre as fortunas acumuladas, ou se entendermos não trazer à escrita os lucros da banca ou o facto da EDP, REN, GALP e PT terem registado lucros superiores a 1240 milhões de euros no ano 2012, um acontecimento da semana anterior põe completamente a nu a hipocrisia e os perigos da política em curso: a chamada recapitalização do BANIF, ou seja, mais uma entrega à banca de 1100 milhões de euros que, tal como em outros casos, saem directamente dos roubos nos salários, reformas, pensões e dos aumentos dos preços.
A opção política de roubar ao trabalho para dar ao capital significa, neste caso concreto, que o dinheiro agora despejado no buraco do BANIF permitiria aumentar o salário no imediato em 30 euros a 2,6 milhões de trabalhadores, que é o mesmo que dizer que cada um dos 500 mil trabalhadores que auferem hoje o SMN podia ver o seu salário aumentado, já em Janeiro, não para os 515 euros mas para os 600 euros. E ainda sobrava dinheiro.
O facto de ter sido chumbado na Assembleia da República e o bloqueio permanente da contratação colectiva por parte das associações patronais não ajudam ao objectivo do aumento do SMN. Não ajudam mas não o travam.
É e vai ser nas empresas e nos locais de trabalho que os trabalhadores vão conquistar cada cêntimo dos seus aumentos. É e vai ser nas empresas e locais de trabalho que os trabalhadores vão travar cada roubo nos seus rendimentos. É e vai ser nas empresas e nos locais de trabalho que, com cada vitória alcançada, se vai construindo a derrota das injustiças, desta política, deste Governo, e se vai abrindo caminho para a alternativa política.
As fortunas deles, fruto da exploração, podem ser muito grandes; eles podem ter os meios económicos, os instrumentos e o Governo nas suas mãos. Podem ter uma força enorme, mas não têm nem terão a capacidade de fazer frente à unidade dos trabalhadores e à sua luta. É para essa unidade e luta que os trabalhadores contam com o PCP.
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