O Governo lançou uma campanha contra a violência doméstica sob o lema «Em vossa defesa, dê um murro na mesa». É uma campanha sensível e bem feita, com suporte na televisão, na rádio e no Facebook. A mensagem central é que as vítimas de violência devem «dar um murro na mesa» para acabar com a situação que vivem, por si e pelos filhos.
A violência doméstica é um problema dramático para muitas famílias, pondo em risco as vidas de milhares de mulheres e crianças. 2012 ainda não acabou e já foram assassinadas 35 mulheres por companheiros ou ex-companheiros. Os efeitos no desenvolvimento das crianças são difíceis de quantificar, mas todos sabemos que são devastadores.
Mas a campanha não é mais do que isso: uma sensibilização. Porque de resto, no concreto do dia-a-dia, o Governo não só não dá um passo para acabar com a violência doméstica, como promove todas as condições sociais e económicas para que o problema se multiplique.
São muitas as dimensões da violência que atingem as mulheres, as crianças, as famílias em geral. O desemprego, a precariedade, a pobreza, os baixos salários, os cortes na protecção social, nos salários, nos serviços públicos, fragilizam em primeiro lugar quem é – ou está – mais frágil. A situação que o País vive potencia o agravamento e a proliferação de fenómenos como o alcoolismo, a toxicodependência, o abandono de crianças, as doenças mentais.
«Dê um murro na mesa» é uma boa frase publicitária para parecer que o Governo está a fazer alguma coisa. Mas na verdade, que condições tem alguém de «dar um murro na mesa» se estiver desempregado? Se ganhar o salário mínimo? Se tiver filhos a cargo? Se não tiver a mínima hipótese de pagar uma renda ou uma prestação ao banco? De ser, numa palavra, uma pessoa autónoma e independente?
O Governo pode fazer mil campanhas e discursos piedosos a dizer o contrário, mas a sua política é violenta, promove a violência, não permite que as vítimas se libertem do ciclo de violência. Precisamos de dar um murro na mesa, sim. Para acabar com a política de direita.
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