Um País feito por nossas mãos
A Festa é a afirmação da esperança e convicção no futuro do nosso povo e do País, com a consciência de que a luta é o caminho. Sentimento bem patente no espaço de Braga, que logo após o topo do caminho de entrada da Festa pela porta da Medideira apresentava na sua fachada enormes figuras de jovens em luta com os punhos erguidos bem acima do término superior das paredes. Por baixo, a banca com artesanato e, atrás dela, o palco onde se afirmava, nas inscrições no seu fundo, «Sim é possível – Produção, Emprego, Direitos». No espaço desta Organização Regional dedicado à gastronomia predominou o bacalhau confecionado de muitas formas – frito, em bolinhos, pataniscas –, mas também o naco de vitela e a massa à lavrador, não faltando a doçaria da região.
Descendo no sentido do Palco 25 de Abril, estava o Algarve, onde a identificação da região era acompanhada pela inscrição, a amarelo, «Emprego, Salários, Trabalho com Direitos». As paredes foram decoradas com quadras do mais conhecido poeta popular da região, António Aleixo, nascido no fim do século XIX, autor de textos com intenso cariz social, e a quem também foi dedicado um painel com notas biográficas, apresentando-o como «Poeta popular, homem do povo – saído do Povo». Também ali esteve presente o artesanato, com predomínio das peças em vime. Não faltou igualmente a incontornável «Marisqueira do Algarve», repleta de delícias marítimas, convidando a refeições que poderiam perfeitamente ser encerradas com a doçaria da região também presente.
E do Algarve, e é provável que só na Festa do Avante! se possa afirmar tal coisa, apenas se andava escassos metros até Bragança. No que toca à gastronomia, a Posta Mirandesa pareceu ser o prato que ocupava mais área nas mesas sempre repletas, disputando a primazia talvez com o «rodeão», prato de vitela assada. «Nun ancerren l'anterior!» – expressão inscrita em mirandês, significando «Não encerrem o interior», ocupava muito oportunamente um enorme painel no local, acompanhada por um mapa da região assinalando os encerramentos de serviços públicos, e que, demonstrando os efeitos da política de direita, assinalava 281 escolas, uma maternidade e 34 serviços de saúde encerrados no distrito em meia década.
Em Coimbra, mesmo ao lado, porcos inteiros eram rodados no espeto e pincelados pacientemente com ramo de folhas de louro embebidas em molho. Uma estrada desenhada serpenteava pelos painéis que encimavam o pavilhão desta Organização Regional. Nessa estrada – de luta – podia ler-se palavras como «Escola», «Produzir», entre desenhos de camponeses e outros alusivos à produção industrial e a manifestações populares. Voltando à gastronomia, a chanfana na «caçoila» de ferro fundido mostrou-se visivelmente popular, bem como o extenso rol de pastelaria e doçaria regional.
O espaço da Organização Regional do Porto, com paredes vermelhas e brancas, impressionava quem dele se aproximasse subindo em direcção à Medideira. Quatro enormes punhos erguidos bem acima dos tectos dos pavilhões, logo abaixo duma pala vermelha. A entrada convidava, por exemplo, às francesinhas, às tripas, bem como a muitos outros pratos da região. Entre diversas transcrições de títulos de notícias publicadas no Avante!, espalhadas um pouco por todas as paredes daquele espaço, sobressaía «Porto rejeita pacto de agressão». No interior, zona das mesas de refeições, encontrava-se uma exposição sobre os acontecimentos do 1.º de Maio de 1982, momento trágico marcado pelo assassinato de dois operários pelas forças policiais.
Quem entrasse pelo lado Oeste da Festa, pela porta da Quinta da Princesa, deparava-se com Viana do Castelo em cujo topo se encontravam dois painéis, um exigindo a requalificação da linha ferroviária do Minho e o outro representando, em pintura, um bordado típico da região. É aqui que se encontra, entre outros pratos, o arroz de sarrabulho, que muitos militantes e amigos, ano após ano, «inscrevem na agenda» como refeição a fazer na Festa do Avante!. Aqui se podia ver uma exposição da actividade do PCP na região, incluindo a preparação do XIX Congresso.
Descendo de Viana chegava-se a Setúbal, o que proporcionava, vindos deste lado, sentir o cheiro convidativo do choco frito, petisco regional muito concorrido. Neste espaço a variedade da oferta gastronómica foi, como vem sendo habitual, muito variada, com grande predominância de pratos de peixe e mariscos. Muitos painéis mencionando, entre outros temas, a defesa da zona da Arrábida, a defesa do poder local democrático, dos serviços públicos, mas também muitas referências alusivas à luta dos trabalhadores, usadas como motivos de decoração, nomeadamente na enorme parede virada para a Alameda da Liberdade, em painéis onde, entre outras frases, se afirmava que «A luta é o caminho». No meio dessa parede três harmoniosos e convidativos arcos davam acesso ao espaço de serviço e mesas de refeição.
Atravessando, vindos de Setúbal, a Alameda da Liberdade, estava-se no Alentejo, espaço também sempre muito concorrido. Painéis recordando o processo da Reforma Agrária e explicando a necessidade actual da sua retoma encontravam-se numa das entradas laterais desta Organização Regional. As paredes das estruturas deste espaço estavam decoradas com motivos alusivos aos cereais, e no seu centro, situava-se o palco onde se presenciou muito cante alentejano. A sua promoção a património imaterial da humanidade foi ali defendida, tendo inclusive lugar de destaque, e com enorme beleza, numa escultura com painel explicativo daquela tradição musical, junto ao Largo da Paz. Como vem sendo habitual, no espaço do Alentejo havia uma enorme variedade e qualidade de muito tentadoras ofertas gastronómicas.
Logo abaixo do Largo da Paz, do lado direito, encontrava-se o espaço de Lisboa, marcado, desse lado, por um enorme painel pintado alusivo à luta dos trabalhadores, ocupando quase toda a parede, em que uma das figuras representadas vestia um colete dos piquetes das grandes greves gerais promovidas nos últimos tempos pela CGTP-IN. Na esquina ficava um típico quiosque, de cor verde, dedicado à venda da ginginha. Além duma variadíssima oferta gastronómica, não faltou a tradicional feira da ladra. Também ali marcava presença o Café Concerto, que este ano deu merecido destaque aos 70 anos do nascimento de Adriano Correia de Oliveira.
Da churrasqueira de Lisboa via-se a Madeira. Esta Organização Regional teve este ano um espaço de exposição dedicado à «Revolta das Águas», narrando todo um processo de exploração, expropriação e luta do povo daquela região. Novamente o pré-pagamento foi feito numa reprodução duma casa típica de Santana, que é um dos ex-libris da Madeira. Entre outros produtos, não faltou a já famosa e concorrida poncha, a espetada e o bolo do caco.
Dum arquipélago para o outro num instante, mesmo ali ao lado ficavam os Açores, encimados por um cubo com painéis onde figuravam, a azul, representações de baleias. Nas paredes do espaço desta Organização, com contornos a azul, emulando as casas típicas da região, aparecia como motivo uma representação de furnas. Não faltaram os produtos típicos, incluindo os famosos queijos.
Ali próximo afirmava-se num painel que «A luta por uma sociedade mais justa vai continuar!». Além desta inscrição, o painel da Organização Regional de Vila Real continha um desenho dum solar típico da região. Mesmo ao lado, por cima do balcão, lia-se «Desenvolver a Região, Apoiar a Produção», numa alusão, entre outros produtos, à carne maronesa, que também ali foi servida. Do outro lado, dando acesso a um dos espaços de refeições com uma das melhores vistas da Festa, que permite, por exemplo, perceber as enchentes de gente junto ao Palco 25 de Abril, lia-se «Defender Serviços Públicos de Proximidade e Qualidade», até porque o distrito de Vila Real tem sido um dos mais atingidos pelos encerramentos e outros ataques a tudo que são as funções sociais do Estado.
Mais uma vez a vitela arouquesa foi servida em Viseu, no já conhecido restaurante cujo nome homenageia a obra homónima de Aquilino Ribeiro, «O Malhadinhas». Em destaque estava a «Capuchinha», peça de vestuário típica da região e que serviu como inspiração para os motivos decorativos das paredes.
Descendo de Viseu, mesmo em frente a Coimbra, painéis ilustrando as lutas recentes no distrito de Leiria, nomeadamente a marcha em defesa do SNS, pela produção, e lutas dos trabalhadores. Neste espaço encontrava-se um balcão dedicado aos produtos de vidro, sector de grande tradição na região, berço de muitas e muitas lutas operárias e também de muitos combativos comunistas, como José Moreira, que a Organização Regional decidiu homenagear através dum painel com notas biográficas duma vida feita de luta.
Luta que se deve continuar a intensificar, numa altura em que, como aludia a decoração de Aveiro, existe uma nefasta perda da soberania nacional. Dois painéis ilustrando a pesca e a produção leiteira apelavam à derrota do pacto de agressão a que Portugal tem estado sujeito e ao aumento da produção nacional. Uma outra série de painéis descrevia com pormenor os problemas do distrito e expunha as posições e propostas do PCP para a região. No que toca aos produtos típicos de Aveiro, pontificaram os incontornáveis ovos moles e o leitão, este último preparado de diversas formas, entre outras iguarias.
Em Santarém, além da frente daquele espaço com a enorme afirmação de que a luta é o caminho, dois painéis magnificamente pintados cobriam as paredes contrárias à localização do Palco 25 de Abril. Um dedicado e ilustrativo da IX Assembleia daquela Organização Regional e outro à importante luta e conquista das 8 horas diárias de trabalho nos campos. No que toca aos alimentos, lá esteve a sopa da pedra, entre outros, incluindo os doces típicos. Na zona das mesas de refeições, enquanto se comia podia ler-se: «Com os Trabalhadores e o Povo, Organizar, Resistir, Lutar pela Democracia e o Socialismo!».
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