O Mali está a ser alvo de uma intervenção militar estrangeira imperialista. A França, a sua aviação e legião estrangeira são a face mais visível de uma intervenção que envolve várias outras potências da NATO – como a Alemanha e os EUA. A guerra é apresentada como uma «ajuda» às autoridades do Mali para combater organizações que espalham o terror e impõem a Sharia no Norte do Mali, ou seja mais uma «guerra contra o terrorismo». Nada mais longe da verdade.
É um facto inegável que várias organizações radicais islâmicas, com ligações que vão desde a CIA até às monarquias do Golfo, passando por serviços secretos de países africanos, actuam desde há muito no Norte do Mali, tirando partido dos movimentos independentistas protagonizados por movimentos Tuareg, originalmente laicos e seculares, cuja expressão política e militar mais recente é o MNLA – Movimento de Libertação do Nacional de Azwad (a região Norte do Mali), e que mais recentemente se «converteu» ao islamismo, se aliou às suas organizações e por elas foi esmagado. Mas é também inegável, e já comprovado, que aqueles que são hoje considerados terroristas no Mali, são os mesmos que foram «rebeldes libertadores» e aliados da França na guerra de agressão à Líbia e que são considerados a «oposição democrática» na Síria.
Então, é necessário olhar para a realidade do Mali para compreender o que de facto está por detrás da intervenção militar imperialista. É necessário desde logo compreender que a França, antiga potência colonial no Mali, sempre tentou pelas mais variadas vias manter o controlo político e económico sobre as suas antigas colónias. E vale tudo para manter esse poder: o apoio a ditaduras cujo poder assenta na corrupção generalizada e nos tráficos mais variados, nomeadamente de droga e de seres humanos, como foi o caso do clã do ex-presidente Touré, posteriormente deposto num golpe militar prortagonizado por gente ligada ao Pentágono; a intervenção militar directa, como o comprovam as mais de sessenta intervenções que a França desencadeou nas suas ex-colónias após os processos de descolonização; ou a imposição dos programas de ajuste estrutural do FMI que como no caso do Mali serviram para entregar às multinacionais os mais variados sectores da economia (desde o mineiro, ao têxtil, passando pelas comunicações e eletricidade) e para impedir a construção do Estado no Mali, seja do ponto de vista da estrutura económica e social seja de soberania e capacidade militar.
Ora, no quadro do aprofundamento da crise do capitalismo, da intensificação das contradições inter-imperialistas e da crescente presença chinesa na realidade económica do continente africano, o Mali, ex-colónia francesa, assim como toda a região do Sahel-Sahara, adquire uma importância estratégica fundamental para o imperialismo. No caso do Mali falamos de um país com o dobro do tamanho da França com uma abundância milionária de riquezas naturais, com uma posição estratégica determinante no que toca às rotas de matérias primas, nomeadamente energéticas, e inserido numa região onde, por exemplo, se desenvolvem gigantescos planos em torno do aproveitamento da energia solar. O Mali, ao mesmo tempo que vê a sua população, nomeadamente no Norte, mergulhada na mais abjecta pobreza, é simultaneamente o país com as maiores reservas mundiais de urânio do Mundo, um dos grandes exportadores de ouro do continente e rico em gás e petróleo. São estes os motivos da intervenção militar no Mali, tal como são estes os motivos para outras guerras e projectos – como o AFRICOM – no continente africano.
Porquê agora? Porque como muitos afirmaram, a instrumentalização da chamada «primavera árabe» e a intervenção na Líbia iriam provocar uma onda de desestabilização em toda a região do Norte de África e Sahel-Sahara e, como previsto, iriam contribuir para um fortalecimento dos movimentos terroristas. Mas tais acontecimentos, como a realidade está a demonstrar, não surgem por acaso, são parte da estratégia do imperialismo e da violenta reacção do capitalismo à sua própria crise.
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