domingo, 8 de abril de 2012

Heróis A Talho de Foice Jornal Avante

Heróis
Em todas as batalhas há heróis e as que se inserem na luta de classes não são excepção. Ao contrário de outros que, justa ou injustamente, povoam o nosso imaginário colectivo, os heróis destas últimas batalhas não figurarão nos livros escolares nem deles se falará na televisão. E muito provavelmente nunca saberemos os seus nomes.

É que o seu heroísmo não é feito de grandes acções nem de iniciativas espectaculares. É simples, silencioso, tantas e tantas vezes não assumido. Um heroísmo que não é só individual, pois reside no colectivo e na força ímpar que dele emana. Um heroísmo que é corajoso e digno. Que se revela na vitória contra o medo de perder o emprego, de deixar de poder fazer face às despesas inadiáveis com a habitação, com a alimentação ou com a escola dos filhos. Que se afirma na postura que se mantém firme e na coluna que permanece direita. Apesar das hesitações. Apesar do medo.

No dia 22 de Março, dia de greve geral, travou-se mais uma dessas batalhas. E foi feita em condições difíceis e extremamente adversas. Contra uma ofensiva avassaladora movida por forças poderosíssimas. Mas travou-se ainda assim. E novos heróis se revelaram.

O que serão senão heróis os 35 trabalhadores da Egor, prestadora de serviços à PT, que aderiram à greve apesar da ameaça de que seriam despedidos se o fizessem? E que dizer dos trabalhadores dos call-centers da EDP de Seia e de Odivelas ou do BES Contact que decidiram não trabalhar no dia da 22? Ou dos empregados da Worten e da Calzedónia do centro comercial Via Catarina, no Porto, que aderiram à greve apesar dos vínculos precários?

E não será um herói o maquinista do Metro Transportes do Sul que, com lágrimas no rosto, recolheu a composição com que se preparava para pegar ao trabalho para não trair os seus companheiros – e cujo exemplo levou outros a fazerem o mesmo? Ou os operários do sector do mobiliário do interior do distrito do Porto ou os trabalhadores da recolha de resíduos sólidos urbanos que conscientemente abriram mão de um dia de salário, quando isso implica sacrifícios imensos para si e para as suas famílias? Que outra coisa se poderá chamar aos trabalhadores dos transportes, alvo de campanhas mediáticas sujas em torno de supostos privilégios e tantas vezes vítimas de processos disciplinares, e que deram uma vez mais um grande exemplo de unidade e combatividade?

Heróis são também os que fizeram greve nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ou na PSA de Mangualde, sobre quem paira a incerteza do futuro das empresas e dos postos de trabalho, e todos os que, por esse país fora, em empresas privadas e serviços públicos, enfrentaram um poder patronal cada vez mais discricionário e fizeram questão de marcar uma firme posição contra a exploração e a injustiça. Heróis são ainda os que, nos diversos piquetes de greve, não se intimidaram perante a pressão dos patrões ou da polícia.
Os nossos heróis são desta têmpera. Que se revelará em muitas outras batalhas e em muita outra gente. Dela germinará, neste heroísmo quotidiano, o futuro por que nos batemos.

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