quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Voltamos a brincar à caridadezinha! artigo de opiniãode João Frazão no Jornal Avante

Ao mesmo tempo que a Cáritas anuncia um aumento de pedidos de ajuda de famílias portuguesas na ordem dos 65% (sessenta e cinco por cento!), entramos na fase em que se multiplicam os apelos à caridadezinha, às recolhas de alimentos, brinquedos, roupas e outros, os almoços e jantares para os pobrezinhos, as distribuições de cabazes, sempre com direito a directos de televisão e à exposição dos que, em situação de desespero, recorrem à ajuda de terceiros para tentar pôr alguma coisa em cima da mesa nesta consoada.
Não questionando a sincera preocupação e interesse em ajudar por parte de muitos que contribuem na esperança de tornar a vida de outrem, ainda que por breves momentos, menos dura, interessa deixar três notas sobre esta situação.
A primeira, para a dimensão verdadeiramente assustadora da pobreza que o anúncio da Cáritas revela. Consequência da política de recessão das troikas, a pobreza, a miséria, a fome, são a face nem sempre visível da concretização do objectivo de aumentar a exploração e o empobrecimento. Que, obviamente, não se resolve com palavras pias para os telejornais.
A segunda para o facto de, nestas semanas, se ir intensificar a campanha ideológica que, rasurando as responsabilidades da política de direita em benefício dos grupos económicos, faz recair a responsabilidade da minimização desta situação no comum cidadão que, a cada passo, se cruzará com lacrimejantes apelos para dar qualquer coisinha. Ai não dá? Vossa excelência não tem mesmo nenhuma sensibilidade social!

A terceira, para registar uma notável (embora não surpreendente) entrevista da inenarrável Isabel Jonet, a Senhora Caridade. Ao jornal i, a Presidente dos Bancos Alimentares Contra a Fome – que, afirmando não gostar de fotografias, se faz fotografar nas mais diversas poses de empreendedora dos coitadinhos –, diz preferir a caridade à solidariedade, pois a primeira diria respeito ao amor e a segunda aos direitos adquiridos. E, está bem de ver, direitos adquiridos não é coisa que agrade à senhora! Até porque, no dia em que cada ser humano deixar de precisar de receber por caridade o que lhe pertence por direito, as senhoras jonets deste mundo deixarão de ter palco!

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